sexta-feira, 23 de abril de 2010

A estética dos sentidos.


Yo te contaré una historia: Así es como comenzó...

"A isso corresponde o fenômeno de que o prazer estético integra no seu âmbito o sofrimento e a risada, o ódio e a simpatia, a repugnância e a ternura, a aprovação e a desaprovação com que o apreciador reage ao contemplar e participar dos eventos. Tanto a nobre Antígona como o terrível Macbeth sucumbem; as emoções com que participamos de seus destinos são profundamente diversas. Mas o prazer suscitado pelo valor estético, pelo modo como aparecem estes destinos diversos, tal prazer, como que "consome" estas emoções divergentes; nutrindo-se delas, ele as assimila; e embora não renegue a variedade das emoções que contribuem para fundá-lo e que o tingem de tonalidades distintas, o prazer como tal, na sua qualidade de prazer estético e na sua intensidade, tende a convergir em ambos os casos".

Foi nesse texto de Antônio Cândido do livro "A personagem de ficção", que tive a inspiração para falar sobre o texto "A crise dos nossos sentidos", debatido no dia 12/04; Cândido, além de crítico de literatura é também autor de obras no âmbito da filosofia, linguística, dialética e ética e estética. E para a estética, ele dá um tratamento bastante cênico, falando da estética no palco, da estética na obra, estética do ator, etc. E em muitos casos faz relações da estética com os nossos sentidos e nossos desejos, Cândido chega a dizer que em muitas vezes nossos sentidos são provocados, são incitados pela estética das artes, visto que "cada sensação sentida por cada um de nossos sentidos advêm de uma excitação sensorial provocada por cada parte de uma obra, de uma ação" (Patrick Pimenta) (aqui obra pode ser uma pintura, um vídeo, um espetáculo, etc.).

E então no auge dos costumes modernos nos deparamos com uma gradativa perda da nossa sensibilidade, estamos destreinando nossas percepções e nossos sentidos estão cada vez mais em segundo plano na nossa "Weltanschauung" (Visão de mundo!!), como o próprio Antônio Cândido fala que estamos formalizando demais o mundo, que devemos nos desprover da fruição estética. Para isso devemos mudar algo. O que? E a resposta é simples: expandir nossos sentidos; sentir e perceber o mundo com outro olhar, menos apático, ouvir melhor o que nos rodeia, deixar os sons nos tomar, dar sentido ao nosso falar, deixar fluir o que vem de dentro, usar nosso tato para muito além do que se é utilizado, as emoções podem ser sim tatilmente sentidas e usar e ousar muito mais com os lábios, com a língua. Por quê não? Descubra o mundo sim com os lábios e com a língua, isso é maravilhoso!!!
Sem isso, acabará ocorrendo a depreciação dos valores sensoriais diante do objeto pós-moderno, como a cena de um taxista que atropela uma idosa e fica preocupado com o amassado do carro e não com o machucado da idosa, e que ainda é pressionado pelo passageiro do táxi a seguir viajem, deixando o ocorrido para trás, pois está atrasado à um compromisso. Onde está o sentido nisso?

Deixo aqui uma pequena tarefa e simples a todos que se dizem ser atores: devemos ampliar as percepções sensoriais nas pessoas com um trabalho minimalista; ir na contra-mão e resgatar as funções de cada sentido humano. O teatro pode contribuir de uma forma sutil, sem grande alvoroço.

E por fim, não menos importante, uma questão levantada ao final da aula que me chamou muito a atenção: O que é o artista? E eu, da minha forma, tentei responder também, mas com outra pergunta: A pergunta em questão não é "o que é o artista?" mas sim "como pode ser pensado o artista?" que visa a busca da sua essência, do seu princípio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário